domingo, 4 de julho de 2010

Viver é não se acostumar com tudo


E aí galera!!!




Td bem?????




Hoje, gostaria de compartilhar um texto super legal da Marina Colasanti, que é bem famoso e super legal... Logo abaixo também tem um vídeo que traz a narração do texto...




O texto "Eu sei mais não devia" nos leva a refletir pelas tantas coisas com que nos acostumamos para vivermos sem maiores sofrimentos... Das tantas vezes que abaixamos a cabeça e deixamos de ser os "protagonistas" da nossa história! Das vezes que aceitamos tudo que nos é proposto e vamos vivendo... vivendo... vivendo... só aguardando o fim...




Que você seja o protagonista de sua vida!!! Lute por seus objetivos, defenda suas ideias se elas estiverem certas... pois, o mundo esta cheio de pessoas que vivem se acostumando com tudo... E você precisa ser diferente!!!


Eu sei, mas não devia






















Marina Colasanti






Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.





Até mais pessoal!!!


Fui...


Fonte:

Texto: COLASANTI, Marina. Eu sei, mas não devia. RJ: Editora Rocco, 1996. Disponível em http://www.releituras.com/mcolasanti_eusei.asp

4 comentários:

  1. Parabenizo-te, primeiramente pelo teu aniversário (como no post anterior tu declarastes) que já há algum tempo passou, mas deixo a minha singela congratulação.

    E segundo, pelo teu esforço e dedicação na criação deste blog.

    Acredito que a rotina do dia-a-dia nos induz aos costumes da vida.
    Aliás, a vida é um costume: nascer, crescer e morrer.
    Mas mais importante do que desacostumar é acostumar, sim, acostumar as pessoas.
    Os pensadores da Antiga Grécia: Tales de Mileto, Sócrates, Platão, Aristóteles, Pitágoras, Hipócrates, entre outros. Criaram o costume de pensar, de filosofar, de medicinar, de contar.
    Costumes esses que são seguidos até hoje e que são bons.
    Devemos acostumar os outros e a si mesmos com o que é bom. A buscar o conhecimento. Devemos “divulgar o saber” para criar esses costumes, como estes grandes pensadores da Antiga Grécia fizeram e, permanecendo vivos até hoje em seus escritos, fazem.

    Só se desacostuma de uma coisa criando outros costumes para ela.

    Atenciosamente.

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  2. Olá Pessoal!!! Olá Mr. Cuca!!!

    Obrigado por enriquecer esta reflexão com seu comentário q nos fez lembrar de grandes pensadores e da importância de nos acostumarmos com as coisas boas!!!

    Agradeço a sua visita!!! Espero q tenha gostado e que volte mais vezes, que o "divulgar o saber" sempre vai estar "de portas abertas" para vc e para todos!!!

    Até +!!!

    Fui...

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  3. Gostei da postagem. Gostei também do “outro lado da moeda” mostrado pelo Mr. Cuca. Boa reflexão! Quanto ao texto, ao discorrer sobre as condições de moradia, trabalho, lazer, as relações entre as pessoas e outros aspectos relacionados à vida na cidade grande, a autora encerra-o, com uma linguagem figurada,“denunciando” o conformismo, a acomodação das pessoas frente aos problemas, a dificuldade de lutar (p não ralar, evitar feridas, esquivar-se da faca, etc.) e a aí ela também se inclui (a gente se acostuma). Implicitamente, fica a mensagem de que devemos lutar para mudar a vida ao nosso redor, pois assim “viver é não viver”; a vida se gasta, se perde de si mesma... E mais: Ela aborda problemas coletivos. Portanto, a luta à qual se refere, é uma luta social.
    Nossa! Viajei...
    É bem coisa de profª de Português; não é Carlos? + espero ter colaborado. Bjos.

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  4. Olá galera... Olá Profª!!!!
    Obrigado pela colaboração aqui.. Obrigado por esta interpretação detalhada do texto... vc nos fez ver alguns itens implícitos, nos fez viajar...
    Acho q vc viajou legal mesmo... mas, fez uma viajem super divertida e o melhor não nos deixou somente como espectadores desta viajem, vc nos levou junto... Obrigado por tudo... Espero q vc continue "viajando" aqui no "divulgar o saber" e nos leve a fazer reflexões que vão acrescentar muito em nossa vida, em nosso senso crítico e em nossa interpretação textual...
    Obrigado...
    Bjs!!!

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